quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Execução de alojamento de madeira


Regulamentados por norma, alojamentos de obra devem atender a requisitos de segurança, higiene e conservação. Escolha do material depende, principalmente, do tempo de duração da obra


Por Larissa Leiros Baroni

Todo canteiro de obras deve ter áreas de vivência que incluam, no mínimo, instalações sanitárias, vestiários e refeitórios. Caso seja necessário que os trabalhadores durmam no local, a obrigatoriedade também se estende para a criação de alojamentos, com lavanderia e, inclusive, áreas de lazer. É o que determina a NR-18 (Norma Regulamentadora de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção). Especificações

Construir alojamentos não significa, no entanto, fazer "puxadinhos de madeira", conforme alerta Luiz Sérgio Coelho, professor do curso de Engenharia Civil do Centro Universitário da FEI (Fundação Educacional Inanciana). Segundo ele, é preciso que as áreas de vivência, assim como o almoxarifado, o escritório e o plantão de vendas sejam planejados juntamente com o projeto executivo. "Na construção civil, cada obra é única. Não há como padronizar os projetos", salienta.
Portanto, como recomenda Coelho, engenheiros e arquitetos devem planejar os canteiros considerando o tipo da obra, bem como o prazo da construção, o número de funcionários, as necessidades e os tipos de materiais e equipamentos que serão necessários durante o processo construtivo. "É importante prever os detalhes, tais como o local onde os funcionários vão comer marmita e se será feita no local. Opções que podem fazer toda a diferença", aponta o professor da FEI, que garante que, se não houver planejamento, o risco de os puxadinhos crescerem no decorrer do processo é grande.
As projeções devem ainda, segundo Marcio Joaquim Estefano de Oliveira, professor de materiais de construção do curso de engenharia civil do Instituto Mauá de Tecnologia, estar em conformidade com a própria NR-18. A norma determina que os alojamentos tenham ventilação de, no mínimo, um décimo da área do piso, iluminação natural e/ou artificiais, área mínima de 3 m² por módulo (cama/armário), pé-direito de 2,50 m² (cama simples) ou 3 m² (cama dupla), instalações elétricas adequadas, entre outras exigências de estrutura, segurança e higiene. "Qualquer desconformidade com as regras e a construtora pode ser multada e, em alguns casos, a obra poderá ser embargada", explica Oliveira.
Montagem e logística

Para iniciar a construção, no entanto, o terreno precisa estar nivelado e seco. Oliveira sugere ainda que os alojamentos sejam posicionados em locais de fácil acesso, mas altos, para evitar alagamentos em períodos de chuvas.
A construção dos alojamentos "é a primeira tarefa de qualquer obra", enfatiza Oliveira, que afirma não ser necessário, todavia, que a área de vivência seja construída em sua totalidade logo de imediato. Pelo contrário, ele recomenda que as áreas sejam montadas de acordo com a necessidade. "Toda obra evolui por curva ascendente, ou seja, começa com equipe reduzida que vai evoluindo até chegar a seu ápice, e depois cai gradativamente", explica.
Assim como os alojamentos obrigatoriamente precisam estar montados no início do trabalho do primeiro funcionário do canteiro, só podem ser desmontados quando o último for embora. "Esse processo também poderá ser gradativo. Ou seja, à medida que o número de trabalhadores diminuir, é possível que os módulos não utilizados sejam retirados", orienta o professor do Instituto Mauá de Tecnologia.
Cuidados gerais

Se a opção for pela madeira, para evitar desperdícios, Coelho recomenda que as dimensões dos alojamentos sejam de múltiplos de 2,20 m² ou 1,10 m², tamanho padrão dos compensados. O segredo dessa construção também está na qualidade da madeira. "Dependendo do prazo da obra, é recomendável inclusive o uso da folha dupla, ou seja, duas folhas de madeira", relata Oliveira, que acrescenta ainda a obrigatoriedade do uso de material com certificação ambiental.
Passar verniz e produtos próprios para proteger a madeira de intempéries e, principalmente, dos cupins é essencial para a durabilidade dos alojamentos. "O ideal é que sejam feitas manutenções periódicas - semanais ou quinzenais, no máximo", assegura Oliveira.
Cotações de preços e fornecedores

Tanto o projeto como a construção dos alojamentos podem ser realizados pela própria construtora ou por empresa terceirizada. Coelho recomenda, no entanto, que a opção seja precedida da avaliação do custo-benefício de cada uma. A cotação deve ser feita com diversas prestadoras de serviços. "Priorizando, no entanto, sempre aquelas com notória especialização", sugere o professor da FEI. É importante ainda, segundo ele, consultar o portfólio de trabalhos já realizados, obter referências de antigos clientes ou de profissionais especializados e se certificar de que ela não tenha problemas fiscais.
Se o custo-benefício da pesquisa favoreceu a terceirização, como prevenção é interessante criar um contrato de prestação de serviços que estabeleça os direitos e deveres de ambas as partes. Inclua ainda, conforme sugere Coelho, cláusula obrigando a terceirizada a seguir todas as exigências estabelecidas na NR-18. Estabelecer multas para o não cumprimento das regras pré-determinadas e dos prazos também é ação preventiva.
Em conjunto com a empresa responsável pela execução do serviço, é recomendável também desenvolver um plano detalhado das áreas de vivências, determinando todas as especificidades e necessidades do canteiro. "Ter um fiscal - seja um engenheiro ou mesmo o mestre de obra - que saiba ler o projeto para acompanhar a execução é essencial para garantir que tudo saia conforme o esperado e acordado", recomenda.

acervo pessoal
Marcio Joaquim Estefano de Oliveira, professor de materiais de construção do curso de engenharia civil do Instituto Mauá de Tecnologia
ENTREVISTA - MARCIO JOAQUIM ESTEFANO DE OLIVEIRA
Segurança e durabilidade
A NR-18 deixa a construtora livre para escolher o tipo de material para a construção dos alojamentos. Qual é a vantagem da madeira em detrimento da alvenaria e do metálico?
Os metálicos normalmente são alugados, têm durabilidade muito maior, mas são vantajosos apenas para obras de duração superior a cinco anos. Os de madeira são indicados, geralmente, para obras mais rápidas, com a vantagem de propiciarem arquiteturas diferentes e confronto térmico mais adequado.
Em quais ocasiões optar pelos alojamentos de madeira?
Não que a madeira não seja recomendada, mas em obras com duração de até um ano sai mais barato alugar contêiner em vez de construir os alojamentos. Mas quando a obra tiver previsão para durar de dois a cinco anos vale investir nos alojamentos de madeira.
Qual a vida útil de um alojamento de madeira?
Depende, sobretudo, do processo de manutenção, que deve ser feito semanalmente ou, no máximo, quinzenalmente. É importante ainda que a madeira seja bem tratada. A determinação é da própria NR-18, que obriga que os alojamentos sejam mantidos em bom estado de conservação, higiene e limpeza. Cuidados que poderão garantir a segurança e, inclusive, o reaproveitamento de parte do material para futuras obras. Cerca de 60% da madeira utilizada, quando bem preservada, poderá ser reutilizada, o que pode garantir ganho financeiro para a construtora.
Segurança é outro critério avaliado no processo de escolha do material dos alojamentos. No caso da madeira o risco de incêndio é maior? Quais os cuidados necessários?
Realmente o risco é real. Para prevenção, no entanto, a própria NR-18 proíbe o uso de fogareiros dentro do alojamento. O papel da construtora é orientar os funcionários sobre essa proibição, além de outras medidas como o não uso de álcool ou outros materiais inflamáveis dentro do alojamento.

NORMAS TÉCNICASNR 18 - Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da ConstruçãoNR 23 - Proteção Contra IncêndioNBR 12284 - Áreas de Vivência em Canteiros de Obras

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