Regulamentados por norma, alojamentos de obra devem atender a requisitos de segurança, higiene e conservação. Escolha do material depende, principalmente, do tempo de duração da obra
Por Larissa Leiros Baroni
Construir
alojamentos não significa, no entanto, fazer "puxadinhos de madeira",
conforme alerta Luiz Sérgio Coelho, professor do curso de Engenharia
Civil do Centro Universitário da FEI (Fundação Educacional Inanciana).
Segundo ele, é preciso que as áreas de vivência, assim como o
almoxarifado, o escritório e o plantão de vendas sejam planejados
juntamente com o projeto executivo. "Na construção civil, cada obra é
única. Não há como padronizar os projetos", salienta.
Portanto,
como recomenda Coelho, engenheiros e arquitetos devem planejar os
canteiros considerando o tipo da obra, bem como o prazo da construção, o
número de funcionários, as necessidades e os tipos de materiais e
equipamentos que serão necessários durante o processo construtivo. "É
importante prever os detalhes, tais como o local onde os funcionários
vão comer marmita e se será feita no local. Opções que podem fazer toda a
diferença", aponta o professor da FEI, que garante que, se não houver
planejamento, o risco de os puxadinhos crescerem no decorrer do processo
é grande.
As
projeções devem ainda, segundo Marcio Joaquim Estefano de Oliveira,
professor de materiais de construção do curso de engenharia civil do
Instituto Mauá de Tecnologia, estar em conformidade com a própria NR-18.
A norma determina que os alojamentos tenham ventilação de, no mínimo,
um décimo da área do piso, iluminação natural e/ou artificiais, área
mínima de 3 m² por módulo (cama/armário), pé-direito de 2,50 m² (cama
simples) ou 3 m² (cama dupla), instalações elétricas adequadas, entre
outras exigências de estrutura, segurança e higiene. "Qualquer
desconformidade com as regras e a construtora pode ser multada e, em
alguns casos, a obra poderá ser embargada", explica Oliveira.
Montagem e logística
Para
iniciar a construção, no entanto, o terreno precisa estar nivelado e
seco. Oliveira sugere ainda que os alojamentos sejam posicionados em
locais de fácil acesso, mas altos, para evitar alagamentos em períodos
de chuvas.
A
construção dos alojamentos "é a primeira tarefa de qualquer obra",
enfatiza Oliveira, que afirma não ser necessário, todavia, que a área de
vivência seja construída em sua totalidade logo de imediato. Pelo
contrário, ele recomenda que as áreas sejam montadas de acordo com a
necessidade. "Toda obra evolui por curva ascendente, ou seja, começa com
equipe reduzida que vai evoluindo até chegar a seu ápice, e depois cai
gradativamente", explica.
Assim
como os alojamentos obrigatoriamente precisam estar montados no início
do trabalho do primeiro funcionário do canteiro, só podem ser
desmontados quando o último for embora. "Esse processo também poderá ser
gradativo. Ou seja, à medida que o número de trabalhadores diminuir, é
possível que os módulos não utilizados sejam retirados", orienta o
professor do Instituto Mauá de Tecnologia.
Cuidados gerais
Se
a opção for pela madeira, para evitar desperdícios, Coelho recomenda
que as dimensões dos alojamentos sejam de múltiplos de 2,20 m² ou 1,10
m², tamanho padrão dos compensados. O segredo dessa construção também
está na qualidade da madeira. "Dependendo do prazo da obra, é
recomendável inclusive o uso da folha dupla, ou seja, duas folhas de
madeira", relata Oliveira, que acrescenta ainda a obrigatoriedade do uso
de material com certificação ambiental.
Passar
verniz e produtos próprios para proteger a madeira de intempéries e,
principalmente, dos cupins é essencial para a durabilidade dos
alojamentos. "O ideal é que sejam feitas manutenções periódicas -
semanais ou quinzenais, no máximo", assegura Oliveira.
Cotações de preços e fornecedoresTanto o projeto como a construção dos alojamentos podem ser realizados pela própria construtora ou por empresa terceirizada. Coelho recomenda, no entanto, que a opção seja precedida da avaliação do custo-benefício de cada uma. A cotação deve ser feita com diversas prestadoras de serviços. "Priorizando, no entanto, sempre aquelas com notória especialização", sugere o professor da FEI. É importante ainda, segundo ele, consultar o portfólio de trabalhos já realizados, obter referências de antigos clientes ou de profissionais especializados e se certificar de que ela não tenha problemas fiscais.
Se
o custo-benefício da pesquisa favoreceu a terceirização, como prevenção
é interessante criar um contrato de prestação de serviços que
estabeleça os direitos e deveres de ambas as partes. Inclua ainda,
conforme sugere Coelho, cláusula obrigando a terceirizada a seguir todas
as exigências estabelecidas na NR-18. Estabelecer multas para o não
cumprimento das regras pré-determinadas e dos prazos também é ação
preventiva.
Em
conjunto com a empresa responsável pela execução do serviço, é
recomendável também desenvolver um plano detalhado das áreas de
vivências, determinando todas as especificidades e necessidades do
canteiro. "Ter um fiscal - seja um engenheiro ou mesmo o mestre de obra -
que saiba ler o projeto para acompanhar a execução é essencial para
garantir que tudo saia conforme o esperado e acordado", recomenda.
Marcio Joaquim Estefano de Oliveira, professor de materiais de construção do curso de engenharia civil do Instituto Mauá de Tecnologia |
Segurança e durabilidade
A
NR-18 deixa a construtora livre para escolher o tipo de material para a
construção dos alojamentos. Qual é a vantagem da madeira em detrimento
da alvenaria e do metálico?
Os
metálicos normalmente são alugados, têm durabilidade muito maior, mas
são vantajosos apenas para obras de duração superior a cinco anos. Os de
madeira são indicados, geralmente, para obras mais rápidas, com a
vantagem de propiciarem arquiteturas diferentes e confronto térmico mais
adequado.
Em quais ocasiões optar pelos alojamentos de madeira?
Não
que a madeira não seja recomendada, mas em obras com duração de até um
ano sai mais barato alugar contêiner em vez de construir os alojamentos.
Mas quando a obra tiver previsão para durar de dois a cinco anos vale
investir nos alojamentos de madeira.
Qual a vida útil de um alojamento de madeira?
Depende,
sobretudo, do processo de manutenção, que deve ser feito semanalmente
ou, no máximo, quinzenalmente. É importante ainda que a madeira seja bem
tratada. A determinação é da própria NR-18, que obriga que os
alojamentos sejam mantidos em bom estado de conservação, higiene e
limpeza. Cuidados que poderão garantir a segurança e, inclusive, o
reaproveitamento de parte do material para futuras obras. Cerca de 60%
da madeira utilizada, quando bem preservada, poderá ser reutilizada, o
que pode garantir ganho financeiro para a construtora.
Segurança é
outro critério avaliado no processo de escolha do material dos
alojamentos. No caso da madeira o risco de incêndio é maior? Quais os
cuidados necessários?
Realmente
o risco é real. Para prevenção, no entanto, a própria NR-18 proíbe o
uso de fogareiros dentro do alojamento. O papel da construtora é
orientar os funcionários sobre essa proibição, além de outras medidas
como o não uso de álcool ou outros materiais inflamáveis dentro do
alojamento.
NORMAS TÉCNICASNR 18 - Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da ConstruçãoNR 23 - Proteção Contra IncêndioNBR 12284 - Áreas de Vivência em Canteiros de Obras
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